
Crônicas e escritos diversos. Opinião. Teatro e Artes.
Cine Theatro Brasil
Para nós, meninos criados no centro da cidade,ir ao cinema era programa obrigatório nos anos 50,
quando nossos pais nos levavam às matinês dos cinemas centrais e mais tarde, já adolescentes nos anos 60, quando íamos sozinhos ou com uma turma de amigos.
Televisão era coisa rara nos lares da classe média brasileira e a diversão era mesmo o cinema, algumas vezes o teatro e as operetas que meus pais assistiam no Francisco Nunes.
Isso sem contar os jogos do América no velho estádio da alameda,hoje um gigantesco supermercado.
De todos os cinemas de rua de Belo Horizonte, apenas o Cine Brasil não se transformou em templo evangélico ou em pequenos centros comerciais alugados a peso de ouro para lojistas que montam ali seus estandes.
O Cine Theatro Brasil, como mostrava o letreiro na porta, sempre pareceu resistir à investida dos "bispos" e pastores de plantão ávidos por encher suas malas com milhares de reais às custas da banalização da (má)fé ou da venda de um lote no céu.
Tombado pelo patrimônio da cidade, seguidas vezes a comunidade impediu sua venda
para outros destinos que não a cultura.
Na semana passada, recebi o convite do meu amigo Merij,
assessor e diretor da Valourec & Mannesmann,
para visitar as obras de restauração do espaço e conhecer o projeto que vai transformar,
finalmente, o Cine Theatro Brasil, em um centro cultural com a cara de Belo Horizonte
bem no marco central da cidade - a praça Sete.
Fomos lá conhecer o projeto, eu e Dulce Beltrão.
Encontramos a equipe de arquitetos, comandada pelo traço experiente de Alípio Pires, que nos encantou com o projeto que desenha sobre as pranchetas e fomos visitar as ruínas do Cine Brasil, construção imponente, com seus dez andares e dezenas de salas, elevadores do tempo do onça mas que ainda funcionam comandados manualmente e a sala principal com capacidade para mil e quinhentos espectadores.
Andamos e vasculhamos os vários andares do futuro V&M Brasil - Centro Cultural,
que é como vai se chamar, depois de concluído em 2008.
Literalmente visitamos um "cinema poeira" pelo acúmulo de sujeira e pó dos últimos trinta anos.
Nem a minha alergia, que logo acendeu as luzes amarelas do organismo, não me fez desistir de ir pisando nos restos da história e relembrando tempos em que frequentava o Cine Brasil
onde assisti ali alguns dos melhores filmes da minha vida.
Que eu me lembre, só "Doutor Jivago" vi umas seis vezes, com direito a sair cantando a música que marcou os amores e horas dançantes da minha adolescência: "Tema de Lara".
Foi uma viagem inesquecível e surpreendente.
Soube com satisfação que a V&M comprou o imóvel para fazer dele um centro cultural com um grande teatro, pequenos espaços multimídias, salões diversos, oficinas de arte, café-livraria,
salas de exposições e até um salão de festas destinado a eventos sociais.
O palco - gigantesco - ainda conserva as estruturas básicas para que a cenotécnica possa fazer mover as imagens da imaginação dos artistas da música, teatro, dança.
Mais que um retorno ao passado foi uma viagem ao futuro, vislumbrando ali uma nova Praça Sete onde arte e cultura vão contemplar uma imensa população que transita e habita o centro da capital mineira, um público de quase um milhão de pessoas, o que vai dar uma nova cara ao assustado e desmotivado centro da cidade.
Merij e Alípio não cabem dentro de seu próprio entusiasmo com o projeto,
o que contamina a todos.Espero que a cidade saiba agradecer este presente, enchendo aquele espaço com sua presença e seu aplauso generoso.
Para nós, artistas, vale à pena ir pensando no que fazer ali em 2008, 2009, 2010...
2006